quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Estou de volta


Até onde eu sei a vida é uma só. E essa que aqui está merece ser vivida e aproveitada ao extremo. O que seria de um artista que sempre sonhou em demonstrar o seu talento mas nunca teve coragem de manifestá-lo se em uma manhã qualquer o seu último suspiro de existência escapasse da sua boca calada? Como saberíamos do seu gênio? Em que palavras encontraríamos o pensamento não dito do poeta inexpresso? Esse é um medo que eu carrego comigo, de ir embora sem dizer a o que vim.  Os últimos anos da minha vida tem sido repletos de mesmices e implicações que de certa forma me travaram e bloquearam minha produção textual. Mas ultimamente uma fúria nasceu dentro de mim, como uma vontade de gritar suprimida por uma censura dissimulada da parte de alguém que me cerca. É nesse momento que me vem o questionamento se isso realmente vale o penar de sofrer calada. Eu cheguei a um pouco que passei a não me importar mais e tentei achar que a escrita não me faria falta. Ledo engano! Percebi que sem ela eu não era mais eu, era qualquer outra pessoa, ou robô repetindo os mesmos atos diariamente e dizendo sim a tudo o que um certo alguém me “aconselhava”. Foi quando percebi também que não era apenas a minha produção textual que me fazia falta, mas a arte em geral. Sentia falta de discutir arte, de conversar e trocar ideias. Mas era sempre castrada por um pensamento medíocre e ciumento que me transformava. Até que um dia eu me perguntei: porque eu estou aceitando isso? Se a situação chegou a esse ponto foi porque de uma certa forma eu permiti. Por mais que no final me doesse muito, eu escolhi o caminho mais fácil, mais cômodo. Depois de não sentir mais a dor,  a dormência pela alma já muito castigada me fazia levar a vida sem manifestar nada. Mas a conta dessa escolha está sendo cobrada agora quando me sinto totalmente esvaziada de mim. Resolvi dar um basta nessa situação e voltar a me expressar como antes e como nunca deveria ter parado. Agora preciso avisar a quem queira me ouvir: eu estou de volta!

terça-feira, 12 de setembro de 2017

DUB


No ano 1990 foi lançado um filme de terror baseado na obra homônima de Stephen King "It: a coisa", traduzido para o português. A trama se desenvolve pela história de um palhaço macabro que passa a assombrar e abduzir as crianças de uma cidade pequena do interior dos Estados Unidos. Em 2017 o remake de "It: a coisa" chega a lotar as salas de cinema do Brasil já na sua estreia. A curiosidade devido a cena clássica do famigerado palhaço surgindo dentro de um bueiro de esgoto e raptando o pobre menino Georgie que tentava resgatar seu barquinho de papel desgovernado em uma correnteza de lama da chuva, me levou a querer ver a nova versão. Em especial, meu companheiro que é tatuador, tem um certo gosto por palhaços pela irreverência e cinismo desses representantes da arte circense, ao ponto de ter algumas tatuagens com rostos deles espalhados pelo corpo. Isso me levou a crer que seria uma boa ideia leva-lo para assistir o tão aguardado filme. Como o mar não está muito para peixes, resolvi escolher um cinema com valor de ingresso mais barato e em um dia que meia entrada e inteira seriam o mesmo valor: R $10 cada. A sessão começaria as 20:40hr e tínhamos todo um dia de atividades a ser vencido para conseguir chegar a tempo. De manhã eu levei e busquei minha filha ao Yoga, voltei pra casa e arrumei o almoço, aprontei a menina para a escola. Tiago, por sua vez, foi deixa-la e voltou para preparar o desenho de uma tatuagem que um cliente faria mais tarde. Depois disso fui ao centro e comprei um material que precisava para fazer doces por encomenda. Logo em seguida, fui comprar areia para a caixa do gato, que já precisava ser trocada. Lavei a louça, fiz torradas com queijo enquanto esperava Tiago chegar do trabalho. Tatuagem feita, os dois arrumados, alimentados e prontos para pegar a moto e descer até o centro da cidade, em um percurso que levaria mais 20 minutos. Mas já eram 20:10hr, o que nos fez correr sobre as duas rodas. Chegando ao shopping, nos direcionamos rapidamente a bilheteria e conseguimos comprar 2 dos últimos ingressos. Emburacamos sala a dentro, que já estava quase lotada e não tinha mais cadeiras casadas. Foi quando do alto da décima fileira eu avistei um lugar vago e falei: - Moça, você pode fastar uma cadeira para lá pra vagar duas juntas pra gente sentar? Ela meio desconcertada aceitou e mudou de lugar junto com o acompanhante de cabelos aplicados em tranças lilases e amarrados em coque. Do outro lado havia um casal gay tendo uma suposta DR amistosa. Mas nós demos graças aos demais por terem cedido o lugar estratégico em frente as caixas de som e bem centralizados com a telona. Teria sido uma boa escolha se não fosse um detalhe que passou despercebido. A sala estava lotada e as poltronas eram muito próximas umas das outras, o que quase me deu uma sensação de claustrofobia.Sem contar que os espectadores ali presentes eram daqueles que gostam de bagunça antes e depois da sessão com gritinhos e brincadeiras. Eu não previa algo muito agradável. Mas ao se iniciarem os trailers, logo senti a potência do som com todos os efeitos de um filme de ação que era anunciado, foi quando o personagem fala com um português dublado, daqueles que envergonham o menos assíduo dos pseudo-cinéfilos: - Matar um homem assim? - enquanto pressionava uma faca na garganta de um sujeito caído e imobilizado. Eu dei um pulo de susto e falei: - Essa porcaria é dublada! E levanto da cadeira dizendo que não vou assistir o filme. - Eu não acredito não! - eu disse, ligando celular e apontando a luz da tela para o ticket carimbado com as letras DUB.
Tiago se assusta com minha reação mas decidi me seguir e saimos apressados. Volto para a bilheteria e pergunto se posso ter o dinheiro de volta pois não sabia que o filme seria dublado. A moça olha o meu ticket e diz que não, pois já havia sido rasgado. Por obra dos céus, eu vejo dois rapazes tentando comprar ingressos sem sucesso pois já estavam esgotados. Tenho a brilhante ideia de vender os dois ingressos. No entanto, um dos rapazes ainda precisava tirar o dinheiro no caixa eletrônico. Sem problemas nós o seguimos até uma agência da Caixa, onde ele tira os R$20 e me entrega. Eu já contente por ter recebido o dinheiro de volta agradeço ao rapaz e me dirijo a saída do shopping. De súbito me vem uma leve consciência pesada: será que eles vão achar lugar naquela sala lotada? Mas besteira, sempre vai ter alguém para sair de um lugar para emparelhar duas vagas. Talvez até mesmo entre o casal discutindo e o moço de dreads lilás. Depois de tudo, a confusão foi grande mas o palhaço dublado ficou para nunca mais. Em tempo, era isso que eu queria: Digo Não ao cinema dublado!!