Mas aquele sonho a provocou de uma forma muito forte. Ela tinha a impressão de ter ouvido, no sonho, a própria Clarice Lispector falar aos seus ouvidos que ela precisava escrever. Era sobre deixar sua marca no mundo e dar vida a problemáticas que passam despercebidas na rotina dos dias.
Mas ela sentia sua voz acoada, abafada, e suas mãos trêmulas mal conseguiam segurar uma caneta.
Não sabia por onde começar pela falta de prática desses anos sem criar. Talvez Clarice pudesse guia-la e contar o caminho das pedras.
Ela pegou o celular e começou a escrever no bloco de notas. Hoje em dia ninguém mais escreve em papéis e o computador já se tornou quase obsoleto.
"Clarice sussurrava nos meus ouvidos, implorando:
- Escreva, escreva! Por favor!
E eu deitada no meu quarto escuro deixando a depressão dos espíritos que me cercavam tomar conta de mim, limitando as minhas ações, só podia dizer não.
- Não posso! Não tenho capacidade para isso. Jamais serei como você. Nunca criarei seres tão humanos e fragilizados na sua existência como você fez. Eu sei que hoje é seu aniversário mas não posso. Desculpe, Clarice."
Essas foram as primeiras linhas que vieram a sua mente, junto com o medo de ser julgada pela pretensão de evocar logo quem. Pensou se publicava ou se guardava pra si essa experiência controversa. Pensou em desenvolver um personagem, em salvar a nota e continuar depois. Pensou também que a ideia poderia ficar esquecida mais uma vez, como de costume ultimamente.
E decidiu que seguiria em frente. Afinal ela não poderia negar um pedido de Clarice. Naquele momento despertou uma estrela brilhante na sua mente. Estava ali o ponto do reinício de tudo.
Agradeceu ao espírito da escritora e foi em busca de uma caneta e um papel.
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