sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Veja Bacurau, mas vá preparado


Vá ao cinema preparado emocionalmente para cenas impactantes de luta e carregadas de história de resistência. Vá preparado com uma bagagem cultural e conhecimento sobre as Ligas Camponesas, sobre o Cangaço e sobre Canudos. Mas principalmente, vá despido do sentimento de entreguismo que vem apavorando nosso país. Vá livre para entender que o sentimento de pertencimento a uma terra é muito maior do que a bajulação aos estrangeiros, que não compreendem os anseios de um povo sedento por existência.

Marielle Franco está presente em Bacurau, na figura de mulheres como Domingas que nunca se calam perante a mira do assassino contratado por um político. João Pedro Teixeira, grande líder dos camponeses, também está mais do que vivo nessa homenagem fílmica às tantas lutas travadas no solo agreste. Lampião se representa na imagem do mais valente justiceiro da cidade, numa versão punk-brega, na pessoa de Lunga.

Bacurau é um retrato fiel da resistência do povo nordestino, que desde os Quilombos dos Palmares vem teimando em sobreviver a tirania daqueles que não o compreendem, que por ser visto como um empecilho para o avanço de interesses mais escusos, renegam sua origem. Um pequeno povoado que faz lembrar a cidade de Princesa Isabel, no sertão da Paraíba, que lutou por independência frente a esse antigo costume que as oligarquias políticas têm de não valorizar os interesses do próprio povo.

É um filme que retrata ipsis litteris a frase “O sertanejo é antes de tudo um forte”, de Euclides da Cunha. De fato, é. E por mais que aqueles que detem provisório o poder, que é do povo, queiram esquecer a luta nordestina, é impossível apagar do mapa da memória a história dessa gente, que tem como a sua maior munição o conhecimento, deixado na própria terra.

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